Parei pra me observar, tirei as luvas e tentei achar uma palavra que fosse um bom começo. Olhei fotos antigas, fotos recentes, renomeei a mudanças que tive, físicas e emocionais. Tentei lembrar de todos os lugares que passei, todas as pessoas que fizeram diferença, lembrei dos melhores papos, e das sensações e satisfações que eu mesma me causei.
Minhas mãos ficaram mais geladas, e minha dúvida continuou, porque eu? Por mérito ou esforço, por destino ou escolha. Nunca nenhum elogio tinha sido tão transtornado aos meus ouvidos.
Requintada, era isso que tinha caído a suas graças, mais aonde eu escondo esse requinte? Nos meu meu velho all star sujo no pé, nas minha unhas vermelhas e curtas, descascadas, no meu cabelo vermelho, quase laranja, desbotado, enrolado e espantado. Ou talvez seria nos buraquinhos que os cravos da minha indisciplina deixaram, poderia ser nos meus olhos de índia, meio borrados nos cantos, cansados no meio, e verdes quando calmo, ainda sobrariam meusquilos à mais, minhas roupas feitas pela saudosa costureira, meu sotaque trouxa, meu dialeto maldoso, e quiçá a minha vontade imensa de fazer diferença.
Não importa, ouvir aquilo mudar minha concepção de ser eu, ou ser mim mesma, ai o português não permite tamanha ousadia.
Descabaceando meu ego, hoje me vi com outros olhos, hoje me senti satisfeita por me tornar isso, que talvez nem tenha tanto requinte, tanto luxo, mais isso tem a mim, o único ser capaz de me proporcionar coisas que só boa dose de egoísmo seriam suficientes pra explicar ou entender.
Demasiada forma de ser, é isso que passei a sentir, quando os meus olhos me olharam de outra maneira, quando eu mesma passei a orgulhar-se do que o reflexo do espelho mostra.
Vou trocar de nome, de hoje em diante me chamarei Narcisa.
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